Lembra do pager/bip ? Ele ainda existe.
Quem tem mais de 20 anos de idade vai se lembrar deste precursor do SMS do celular: o pager. Mas o que pus na foto acima é um dos mais moderninhos: os primeiros modelos eram conhecidos simplesmente como bip, pois era esse o som que se emitia quando se recebia uma mensagem. Era um aparelho que tinha um aspecto de um controle remoto de TV grande e com uma lâmpada que acendia ou piscava e o tal som de bipe. Pela cidade era espalhada uma rede de rádiofreqüência que emitia o sinal para o bipe. Seu uso era bem rococó. Jovens, preparem-se para um susto.
Cada usuário tinha um número de identificação. Até aí, sem novidades, é preciso um número para enviar um SMS. Porém, para enviar uma mensagem ao portador de um bipe, tinha que ligar para o callcenter (e esse nome nem existia) da empresa do bipe, ditar o número de identificação para um atendente e ditar a mensagem a ser enviada. Estranho, não ? Privacidade ínfima. Como os bipes não tinham painel de LED ou LCD, a função do caro aparelho era simplesmente alertar que havia uma nova mensagem. O dono do bipe ao perceber o aviso sonoro ou visual, tinha que ligar para o mesmo callcenter, se identificar dizendo uma senha e ouvir lá do outro lado da linha o atendente ler em voz altas todas as mensagens enviadas para o número de identificação dele. É apenas um pequeno passo evolutivo em comparação ao bilhete na porta da geladeira.
Os aparelhos mais modernos, como o da foto desse artigo, possuiam painel de LCD e recebiam diretamente as mensagens, evitando a necessidade da leitura em voz alta por um atendente do callcenter, passando a ter hegemonicamente o nome pager no Brasil. Porém, o envio de mensagens ainda era feito pelo método rococó de ligar por voz e ditar para uma pessoa. Antes da difusão do celular a paritir da segunda metade da década de 90 era isso que se entendia por mobilidade.
Qual foi a última vez que você viu um pager ? Eu lembro: foi em 1999. Os SMS, chamados também ora por torpedos, ora por mensagem de texto, começavam a surgir nos aparelos e nas redes TDMA/CDMA das redes de celular mas ainda havia quem preferisse ligar para um callcenter e digitar as mensagens. As pessoas ainda penosamente se habituavam a apertar três vezes a tecla de número 2 para sair a letra C. Hoje o SMS vingou: até minha tia-avó septuagenária me manda SMS.
Mas numa tarde de pensamentos retrô, vendo o pôr-do-sol na capital paulista me lembrei da empresa Teletrim, uma das mais populares de bipes/pagers. O que será que estavam fazendo ? Fecharam as portas ? Viraram provedor discado ? Chutei no meu Firefox teletrim.com.br e deu certo, era o site deles. Descobri o que agora fazem: o core business deles é o bloqueio remoto de veículos. Saiba decisão: para quem tem uma rede de rádiofreqüência espalhada por vários municípios, é um serviço rental. Também vi um produto VoIP, via internet mesmo, e achei uma aberração os preços. E por fim vejo o agonizante serviço de pagers, ainda com aparelhos da Motorola.
Fiquei curioso… quanto deve custar em 2009 o supra sumo da mobilidade das décadas de 80 e 90 ? Liguei para 4003-8200 como indicado no site e fui deveras mal atendido. Quiseram me encaminhar duas vezes para um número 0800 que nem existe mais e os atendentes do 4003 nem sabiam disso. Fui tão insistente que tomaram nota dos meus dados e por bilhetinhos internos na empresa, algum responsável pelo setor de pager soube da minha existência, do meu telefone e cerca de 2h depois me ligou. O rapaz foi sucinto e direto:
- Aparelho: R$60,00
- Mensalidade: R$25,00 contemplando 6.500 caracteres recebidos. Depois disso, R$0,01 a cada 2 caracteres.
- Ativação: em até 3 dias úteis
Será que vale a pena ? Comparemos com as redes GSM. De acordo com a Claro, SMS tem um limite de 160 caracteres por mensagem. Fiz um levantamento de quanto custa o SMS em algumas operadoras que tinham essa informação no site oficial para comparar com o serviço da Teletrim:
- Claro: R$0,30 por SMS
- TIM: R$0,39 por SMS
- Vivo: R$0,35 por SMS
- Aeiou: R$0,14 por SMS
- Teletrim: R$0,61 (considerando cada 160 caracteres do total de 6.500)
Se formos considerar um usuário que extrapole os 6.500 caracteres no mês - o que seria cerca de 40 SMS - o preço é maior ainda: R$0,80 cada 160 caracteres, ou seja, o equivalente a um SMS.
Então como insistem em vender um serviço desses ? Não sei responder, mas reconheço três diminutas vantagens. A primeira é o envio de mensagens pelo site da empresa, serviço nem sempre disponível em todas as operadoras, como é o caso da TIM que cobra pelo envio de SMS pelo seu site. A segunda vantagem é o serviço Etrim, que permite que e-mails sejam redirecionados ao pager, porém, ao oneroso custo revelado acima. Muito provavelmente é mais barato usar os clientes de e-mail embutidos nos dumbphones atuais via GPRS/EDGE, mas não pude me debruçar sobre essa questão. E a última singela vantagem nos lembra os primórdios do serviço: você pode receber via pager um e-mail e para respondê-lo, ligar para o callcenter e ditar para o atendente uma resposta.
Não consigo imaginar que trafegar dados na rede da Teletrim tenha um custo tão elevado Imagino que o serviço poderia ainda ter algum fôlego se não fosse tão caro e se principalmente proporcionasse recursos que geralmente não se tem via SMS. Há quem está o tempo todo na rua e precisa de comunicação permanente e assíncrona, como representantes comerciais que fazem muitas visitas. Um smartphone com um plano 3G ainda não é muito acessível, portanto, se o Teletrim tivesse um custo fixo de 25 reais e 60 reais o aparelho seria uma boa, não ?
- Bitácora de thiago
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