O erro é mais didático que o acerto, Andréa
Depois que o jornal Estadão cantou de galo sobre a blogosfera tentando semear no público uma desconfiança sobre a inteligência coletiva disseminada pela internet, ficou claro e documentado que a mídia tradicional não consegue compreender os rumos que a atualidade tem apontado na criação, gestão e disseminação da informação além do olhar preconceituoso e pueril que esses veículos lançam sobre estes rumos.
Nessa semana, um artigo publicado no caderno de educação do jornal Folha de São Paulo (em sua versão online) as 12h40min do dia 25/08/2007 confirma o que eu percebia dando palestras em faculdades: a academia, com sua cultura tradicional e erudita é incapaz de compreender o momento da tecnologia da informação que vivemos agora e já começa a tentar defender seus meios e hábitos como um menino arredio. Nesse artigo, sobre o uso de editores de texto em computadores, Andréa Jotta Nolf, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP é entrevistada:
“Quem faz texto no Word, por exemplo, tem tudo corrigido automaticamente.” Dessa forma, diz ela, o estudante deixa de prestar atenção em regras básicas da ortografia. “A solução é que as escolas peçam alguns trabalhos escritos à mão, pelo menos nas séries iniciais“, afirma Andréa.
Não. O erro é mais didático que o acerto, Andréa. Quando uma pessoa escreve uma palavra de ortografia incorreta, o computador não corrige o erro magicamente. O usuário é alertado por um grifo pontilhado e vermelho abaixo da palavra e quando se clica com o botão direito sobre ela, o editor sugere uma listas de palavras que parecem a ele mais adequadas para o contexto. Ao ser obrigado a interagir com o programa e selecionar uma palavra mais adequada, o aluno estará aprendendo qual é a ortografia correta da palavra que por impulso ou hábito fonético ele escreveu errado. E mais, algumas palavras que não eram do conhecimento do aluno podem ser exibidas nesta lista, enriquecendo o vocabulário. Essas oportunidades de aprendizagem só acontecem com um editor de texto, dificilmente ocorreriam em meios tradicionais.
De fato, nas séries iniciais é necessário que o letramento ocorra de forma manuscrita. Mas, assim que a criança desenvolver a coordenação motora fina suficiente para que sua expressão escrita seja inteligível a outras pessoas, ela pode ser submetida ao uso de um editor de texto ou a um computador como um todo sem qualquer tipo de prejuízo. Muito pelo contrário, as oportunidades são ampliadas quando esse tipo de prática é feita, como discuti anteriormente. Oportunidades que são facilmente percebidas quando se experimenta uma ferramenta antes de emitir um parecer sobre o uso dela a um jornal em nome de um núcleo de pesquisas de psicologia em informática.
Também não posso deixar de registrar meu desconforto ao ver que o uso de uma marca registrada de um produto é utilizado como sinônimo de editor de texto. É uma boa oportunidade de lembrar que o Word não é a única forma de se escrever, editar e imprimir textos em um computador. As outras alternativas são, do ponto de vista técnico, muito superiores a ele. Recomendo conhecê-las.
Fica aqui o sinal de alerta para a comunidade acadêmica: baixem as armas. Tentem estudar e usufruir do que a tecnologia da informação tem de melhor para ajudar o desenvolvimento do conhecimento. Se a academia continuar apegada aos seus vícios e tradições, ficará à margem das práticas sociais mediadas em ambientes virtuais e por tabela aquém do bendito ‘mercado de trabalho‘ que todo universitário quer atender.
por Kurt Kraut
- Bitácora de thiago
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