Entrevista sobre a BRASnet e o IRC brasileiro

Fui por muitos anos um membro participante da extinta rede BRASnet de IRC. Tivemos picos de mais de 70 mil usuários brasileiros conectados simultaneamente, mais de 220 mil nicks registrados. Esses números certamente são maiores pois esses são os que lembro de cabeça. Eu participei como Ouvidor do canal #Ajuda, oficial de suporte e como Administrador Geral da rede juntamente com Mauritz e o fabulous. Sou testemunha ocular da internet brasileira antes de sua popularização, muito antes da era da web 2.0. Aliás, naquela época, o mais importante da internet mal eram os sites: o bate papo e o e-mail tinham uma posição central. A BRASnet foi a quinta maior rede de IRC do mundo e a maior da história de um único idioma, bem maior do que a Freenode ou a OFTC.

Eu me afastei da rede cerca de 1 ano antes de seu fim e desde então nunca falei por extenso do que aconteceu nem de como as coisas funcionavam. Alguns convites para entrevista rolaram, mas eu sempre recusei. Não achava importante, achava desnecessário. Mas, tenho visto que pelo pouco hábito que temos de registrar a história corrente da internet, notei que a memória e a cultura do IRC têm morrido sem deixar lápide. Cedi então a um convite feito pelo Thales, da rede PapOnline, pela delicadeza do convite. Faz uns 2 ou 3 meses que estou enrolando para marcar a data mas acho que chegou a hora. A PapOnline é uma das várias e pequeninas redes de IRC brasileiras que ainda existem, mas disputando pela mesma nanofatia de usuários.

Apontam hoje o Orkut como inventor das tais ‘comunidades virtuais’. Suspeite de qualquer ‘expert’ da área que disser isso pois, é uma ingenuidade tremenda. As comunidades virtuais surgiram antes da própria internet, com o BBS, e foram mantidas com o IRC desde o início da década de 90. E eu diria que eram comunidades mais poderosas. O Orkut, Facebook, Fotolog.net, são produtos de empresas, visam o lucro. O IRC em sua era áurea era financeiramente e tecnicamente mantido por seus usuários, uma comunidade por ela mesma. E foi assim que entrei para administração  geral da BRASnet: um usuário como outro qualquer que se engajava progressivamente pela manutenção da comunidade, até atingir o maior escalão.

Não gosto de dois pesos e duas medidas: o que é certo é certo, o que é errado é errado. Atuei com afinco como ‘polícia da rede’, punindo qualquer abuso, violação de regras ou mal uso dos serviços da BRASnet.  Criei o Balthasar, um bot que varria a rede por padrões suspeitos e bania blocos de IPs inteiros, suspendia nicks e canais.  O log dele tinha BILHÕES de linhas em menos de 6 meses de operação. Por não ser adepto da camaradagem, do jeitinho brasileiro, muita gente me odiava. O que é muito fácil… é fácil odiar quem se dispõe a organizar a comunidade quando se quer desorganizá-la, criando ataques, espalhando vírus, fazendo SPAM etc. Não deve ser difícil de achar até hoje no Google sites em ódio ao meu nome :D

Mas para minha felicidade muitas pessoas que tropeçaram comigo dizem hoje me entender. E reconhecem que na falta do meu rigor é que a BRASnet e as outras redes ainda viventes estão se degradando. Quem ainda guarda más lembranças, entendendo como era o dia a dia do meu lado da tela, não é difícil também me compreender.

O que será então que falta ao IRC brasileiro? O que a experiência da BRASnet tem a contribuir para a internet de hoje? O IRC está fadado ao fracasso? Foi por culpa do MSN e do Orkut que o IRC brasileiro sucumbiu? Esses e outros assuntos podemos discutir amanhã.

Portanto fica aqui o convite para um bate papo comigo sobre a BRASnet e o IRC brasileiro :

Onde: no canal #PapOnline em irc.paponline.net ou via webchat.

Quando: hoje (06/07/08) as 20h (Brasília)

Espero vocês lá. E para deixar uma pontinha de saudades, vejam o site da BRASnet ao longo do tempo.